sábado, 18 de junho de 2011

Episteme da Saudade

Esta carta acabou de nascer.
Foi semeada com sua presença e adubada com as lembranças.
Que latentes nos meus miolos, não tira sua imagem das minhas retinas (mesmo que um pouco recauchutadas).
Materializa-te através do olfato, sentindo seu cheiro doce incrustado na minha pele.
Sentindo seu corpo quente roçando o meu com prazer e paixão.

O brilho nos seus olhos me engana com este sorriso espontâneo.
Dizendo que seu coração é todo meu.
Mas não entendo que é só neste momento, e me perco no caminho triste da saudade.
Não entendo que não é pra sempre, e será dentro de mim e de você.
Vejo essa mistura de lembranças e saudade como a música.

Mesmo que no deserto, perdido, sem ninguém por perto.
A música está presente, basta que escolha no repertório da memória.
E cantarolar é o primeiro passo para fazê-la existir.
Assim são as lembranças que tenho de você, de nós.
Pego-me perdido pensando em como estivemos próximos esses dias.
Em qualquer lugar que estiver você pode se materializar dentro das minhas saudades.

Vejo você a todo o momento, mesmo de olhos abertos.
Sinto saudades, que me permite falar somente no português.
Esta palavra trissílaba, que somente uma língua traduz.
Meu coração dissílabo-egoísta, que acredita ser o único capaz de...
Saudades sua sentir.

Um beijo quente, em todo o seu corpo, de pele macia e picante.
Um beijo neste sorriso, de lábios doces e incandescentes.
Um beijo em você toda, um beijo em toda você, a cada dia. a cada minuto, em cada pedaço.
Se for possível traçar uma episteme da saudade, creio que seja esta.
Esta a única cópia da minha saudade escrita,...por você.

Depende do tempo

Não entendo por que “cargas d'águas”, Santos Dumont inventou o relógio de pulso.
Maldita a hora em que foi permitido a ele nos seguir, peregrinamente.
Este marcador infindável de tempo que escraviza seus cúmplices.
Esses ponteiros digitais automáticos à bateria de lithium, daquelas que não acabam nunca.
Assim poderá ter a certeza que será controlado pra sempre.

Bendito presente ao qual fui dado, pois estou certo que me deram de presente a ele.
Esta afirmação já está escrita em outro texto, mas cabe muito bem a este.
Que questiona a real necessidade de se prestar a tal submissão.
E gotejantemente mina minhas fronteiras, não permite atrasar, não permite subjeções, transgressões.

Não me canso de lutar corajosamente, e certo do momento próximo durmo tranqüilo.
O tempo não passa entre os ponteiros, passa na minha ansiedade.
O tempo não passa como para uma criança às vésperas do Natal, não passa para chegar
Neste momento o tempo serve apenas para afastar, para nos distanciar
Nos distanciar das coisas que estão dependo do tempo para chegar

Só não me distancio de você, nunca me distancio de você.
Neste tempo o tempo que a matéria nos separa não está no ponteiro digital.
O tempo está dentro de nós. E corre no nosso mundo paralelo à realidade.
Dentro do nosso cantinho, dentro da minha e tua vida.
Corre o tempo, mas corre com meu caminho para longe do seu.
Para que fique sempre a esperança de que ainda não terminou
E durará até o "Jardins de Margaridas".